Mauro Ferreira no G1

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sábado, 6 de abril de 2013

Caetano revitaliza obra em moto contínuo ao mandar 'Abraçaço' em cena

Resenha de show
Título: Abraçaço
Artista: Caetano Veloso (em foto de Ana Schlimovich)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 21 de março de 2013
Cotação: * * * 1/2
Agenda da turnê nacional do show Abraçaço:
6 de abril de 2013 - Centro de Eventos de Fortaleza - Fortaleza (CE)
11 a 13 de abril de 2013 - HSBC Brasil - São Paulo (SP)
20 de abril de 2013 - Iate Clube Petrolina - Petrolina (PE)
25 de abril de 2013 - Teatro Araújo Viana - Porto Alegre (RS)
27 e 28 de abril de 2013 - Palácio das Artes - Belo Horizonte (MG)

O show Abraçaço - cuja turnê nacional é retomada por Caetano Veloso neste sábado, 6 de abril de 2013, com apresentação em Fortaleza (CE) - é superior ao CD Abraçaço (2012). Assim como o show (2006) foi melhor do que o álbum (2006) e como o show Zii e Zie (2009) superou o disco Zii e Zie (2009). Nos três shows, o cantor e compositor baiano ameniza a irregularidade dos repertórios destes três discos - todos com quatro ou cinco composições realmente boas, à altura da obra do artista - com a inserção harmoniosa de músicas de diversas fases de seu cancioneiro. Dessa forma, escorado na pegada indie e jovial da BandaCê, Caetano revitaliza sua obra em moto contínuo. No show Abraçaço, as 23 ou 24 músicas do roteiro se irmanam e interagem com naturalidade (o total de músicas do roteiro depende da variação do bis, feito com três ou quatro músicas, a julgar pelas quatro catárticas apresentações que deram de 21 a 24 de março de 2013, no carioquíssimo Circo Voador, o pontapé inicial na turnê nacional). Nesse sentido, é significativa a escolha de Triste Bahia (Caetano Veloso sobre poema de Gregório de Mattos, 1972) para fazer o link de Abraçaço com Transa (1972), o álbum de atitude roqueira associado à trilogia do cantor com a BandaCê. A propósito, Marcelo Callado (bateria), Pedro Sá (guitarra) e Ricardo Dias Gomes (baixo) resolvem com brilho a equação do tema, que soma alusões a cantigas populares e ao ijexá na letra triste que acentua a melancolia exposta no disco Abraçaço. Melancolia concentrada em outra significativa lembrança da obra pregressa do artista, Mãe (Caetano Veloso, 1978), música nunca gravada por seu compositor - assim como Reconvexo (Caetano Veloso, 1989), provavelmente alocada no roteiro por citar na letra o nome de Dona Canô (1907 - 2012), a mãe do artista, espécie de matriarca da Roma Negra, morta no último Natal. Reconvexo expõe o balanço do Recôncavo Baiano no toque indie da Cê, que segue o bloco do samba-reggae Alexandre (Caetano Veloso, 1997) no passo do samba-rock. Neste número, Caetano faz jogo de cena com um livro, aludindo ao fato de seu Alexandre ter vindo ao mundo no disco intitulado Livro (1997). Por mais que a tristeza se insinue senhora ao longo do show, os rasgos de melancolia são diluídos em cena pela alegria excelsa do artista de estar no palco com trio jovem diante de público jovial que abraça com força todas as músicas do álbum que gerou o show. O abraçaço da plateia é forte já no primeiro número, A bossa nova é foda (Caetano Veloso, 2012), cujo verso-refrão que intitula o tema é caracterizado por Caetano como um "grito de guerra". Uma afirmação da genialidade de João Gilberto, o papa da bossa, de quem o cantor se mostra devoto fervoroso na canção seguinte, Lindeza (Caetano Veloso, 1991), cuja aura bossa-novista é delineada pelo violão de Caetano. A propósito, o violão entra no centro do show eletroacústico em vários números, em papel central coerente com sua importância na gestação do disco Abraçaço. É o violão do artista que domina a cena no samba Quando o galo cantou (Caetano Veloso, 2012), na canção confessional Estou triste (Caetano Veloso, 2012), na bela canção Alguém cantando (Caetano Veloso, 1977) - provável homenagem do artista à sua recentemente falecida irmã Eunice Souza de Oliveira (1929 - 2011), a Nicinha, com quem Caetano gravou a música no álbum Bicho (1997) - e na pouco inspirada canção Vinco (Caetano Veloso, 2012), involuntário anticlímax do bis, reanimado com o samba-reggae A luz de Tieta (Caetano Veloso, 1996) e com o rock Outro (Caetano Veloso, 2006). Com ou sem violão, o abraçaço do artista é recebido em cena com calor, transmitido pelo público através do coro na música-título Abraçaço (Caetano Veloso, 2012) - número em que a BandaCê mostra o peso de seu rock indie - e do silêncio respeitoso com que a pregação ideológica de Um comunista (Caetano Veloso, 2012) é ouvida em cena. Letárgico no disco, o discurso surte mais efeito no show. Já Parabéns (Caetano Veloso e Mauro Lima, 2012) conserva no palco a mesma vivacidade rítmica do disco enquanto Homem (Caetano Veloso, 2006) despeja jato de testosterona em cena com Caetano reforçando com gestos a confissão masculina da letra. Hit infalível do álbum , o rock Odeio (Caetano Veloso) é veículo para a exposição da jovialidade do homem velho de 71 anos que ensaia passos de funk em cena no clima do batidão de Funk melódico (Caetano Veloso, 2012), tema cantado - com a letra sendo lida - após Escapulário (Caetano Veloso sobre poema de Oswald de Andrade, 1975), samba que ganha o molho do rock da BandaCê e que soa tão expansivo em cena quanto o pop rock Eclipse oculto (Caetano Veloso, 1983). No fim, ao dar voz a Você não entende nada (Caetano Veloso, 1971), samba lançado por Gal Costa em compacto gravado para o Carnaval de 1971, Caetano Veloso convida seu público a segui-lo através da repetição do verso "E quero que você venha comigo". Todo mundo vai, alegre, no embalo de uma obra e de um artista em moto contínuo.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O show Abraçaço - cuja turnê nacional é retomada por Caetano Veloso neste sábado, 6 de abril de 2013, com apresentação em Fortaleza (CE) - é superior ao CD Abraçaço (2012). Assim como o show Cê (2006) foi melhor do que o álbum Cê (2006) e como o show Zii e Zie (2009) superou o disco Zii e Zie (2009). Nos três shows, o cantor e compositor baiano ameniza a irregularidade dos repertórios destes três discos - todos com quatro ou cinco composições realmente boas, à altura da obra do artista - com a inserção harmoniosa de músicas de diversas fases de seu cancioneiro. Dessa forma, escorado na pegada indie e jovial da BandaCê, Caetano revitaliza sua obra em moto contínuo. No show Abraçaço, as 23 ou 24 músicas do roteiro se irmanam e interagem com naturalidade (o total de músicas do roteiro depende da variação do bis, feito com três ou quatro músicas, a julgar pelas quatro catárticas apresentações que deram de 21 a 24 de março de 2013, no carioquíssimo Circo Voador, o pontapé inicial na turnê nacional). Nesse sentido, é significativa a escolha de Triste Bahia (Caetano Veloso sobre poema de Gregório de Mattos, 1972) para fazer o link de Abraçaço com Transa (1972), o álbum de atitude roqueira associado à trilogia do cantor com a BandaCê. A propósito, Marcelo Callado (bateria), Pedro Sá (guitarra) e Ricardo Dias Gomes (baixo) resolvem com brilho a equação do tema, que soma alusões a cantigas populares e ao ijexá na letra triste que acentua a melancolia exposta no disco Abraçaço. Melancolia concentrada em outra significativa lembrança da obra pregressa do artista, Mãe (Caetano Veloso, 1978), música nunca gravada por seu compositor - assim como Reconvexo (Caetano Veloso, 1989), provavelmente alocada no roteiro por citar na letra o nome de Dona Canô (1907 - 2012), a mãe do artista, espécie de matriarca da Roma Negra, morta no último Natal. Reconvexo expõe o balanço do Recôncavo Baiano no toque indie da Cê, que segue o bloco do samba-reggae Alexandre (Caetano Veloso, 1997) no passo do samba-rock. Neste número, Caetano faz jogo de cena com um livro, aludindo ao fato de seu Alexandre ter vindo ao mundo no disco intitulado Livro (1997). Por mais que a tristeza se insinue senhora ao longo do show, os rasgos de melancolia são diluídos em cena pela alegria excelsa do artista de estar no palco com trio jovem diante de público jovial que abraça com força todas as músicas do álbum que gerou o show. O abraçaço da plateia é forte já no primeiro número, A bossa nova é foda (Caetano Veloso, 2012), cujo verso-refrão que intitula o tema é caracterizado por Caetano como um "grito de guerra". Uma afirmação da genialidade de João Gilberto, o papa da bossa, de quem o cantor se mostra devoto fervoroso na canção seguinte, Lindeza (Caetano Veloso, 1991), cuja aura bossa-novista é delineada pelo violão de Caetano. A propósito, o violão entra no centro do show eletroacústico em vários números, em papel central coerente com sua importância na gestação do disco Abraçaço. É o violão do artista que domina a cena no samba Quando o galo cantou (Caetano Veloso, 2012), na canção confessional Estou triste (Caetano Veloso, 2012), na bela canção Alguém cantando (Caetano Veloso, 1977) - provável homenagem do artista à sua recentemente falecida irmã Eunice Souza de Oliveira (1929 - 2011), a Nicinha, com quem Caetano gravou a música no álbum Bicho (1997) - e na pouco inspirada canção Vinco (Caetano Veloso, 2012), involuntário anticlímax do bis, reanimado com o samba-reggae A luz de Tieta (Caetano Veloso, 1996) e com o rock Outro (Caetano Veloso, 2006).

Mauro Ferreira disse...

Com ou sem violão, o abraçaço do artista é recebido em cena com calor, transmitido pelo público através do coro na música-título Abraçaço (Caetano Veloso, 2012) - número em que a BandaCê mostra o peso de seu rock indie - e do silêncio respeitoso com que a pregação ideológica de Um comunista (Caetano Veloso, 2012) é ouvida em cena. Letárgico no disco, o discurso surte mais efeito no show. Já Parabéns (Caetano Veloso e Mauro Lima, 2012) conserva no palco a mesma vivacidade rítmica do disco enquanto Homem (Caetano Veloso, 2006) despeja jato de testosterona em cena com Caetano reforçando com gestos a confissão masculina da letra. Hit infalível do álbum Cê, o rock Odeio (Caetano Veloso) é veículo para a exposição da jovialidade do homem velho de 71 anos que ensaia passos de funk em cena no clima do batidão de Funk melódico (Caetano Veloso, 2012), tema cantado - com a letra sendo lida - após Escapulário (Caetano Veloso sobre poema de Oswald de Andrade, 1975), samba que ganha o molho do rock da BandaCê e que soa tão expansivo em cena quanto o pop rock Eclipse oculto (Caetano Veloso, 1983). No fim, ao dar voz a Você não entende nada (Caetano Veloso, 1971), samba lançado por Gal Costa em compacto gravado para o Carnaval de 1971, Caetano Veloso convida seu público a segui-lo através da repetição do verso "E quero que você venha comigo". Todo mundo vai, alegre, no embalo de uma obra e de um artista em moto contínuo.

O Neto do Herculano disse...

Esperando a apresentação em Salvador, ingresso na mão.

Dan Peder disse...

Dos três discos dessa fase cê, abraçaço é o que mais gosto!

Sexta feira no HSBC promete!

william disse...

Ótima resenha do show, Mauro, espero que o Dvd "Abraçaço" venha logo!

Qualquer Coisa disse...

Jurava que ele fosse incluir alguma canção do álbum recanto no repertório d da turnê de abraçaço ao vivo...