Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Moreno cai no samba em Tóquio, solo, longe das experiências do trio + 2

Resenha de CD
Título: Solo in Tokyo
Artista: Moreno Veloso
Gravadora: Hapiness Records
Cotação: * * * 1/2
Disco lançado somente no Japão em 2011, ainda à espera de edição no mercado brasileiro

Sozinho no universo hi-tech de Tóquio com seu violão e sua percussão, Moreno Veloso cai no samba em várias formas do ritmo que os japoneses cultuam como se fosse seu. Disco lançado no Japão em 2011 pela gravadora indie Hapiness Records, Solo in Tokyo flagra Moreno em gravação ao vivo de show concebido distante das experimentações feitas com o trio + 2 (formado com Kassin e Domenico Lancellotti) e bem longe do universo eletrônico em torno do qual gravita o último álbum de Gal Costa, Recanto, cuja produção é assinada por Moreno com seu pai, Caetano Veloso. Também gravado sob a produção de Moreno, Solo in Tokyo é disco que não nega a raça e o d.n.a. do artista. O samba dá o tom de temas como A Base do Supremo (Moreno Veloso e Rogério Duarte). É um disco de Moreno, mas bem poderia ser um disco de Caetano por circular em volta da roda do samba baiano em Um Passo à Frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro), por evocar a bossa do samba de João Gilberto em Jardim de Alah (Moreno Veloso e Quito Ribeiro) e por celebrar as tradições do bloco afro Ilê Aiyê no desossado samba-reggae Corpo Excitado (Reizinho) e em Deusa do Ébano (Miltão), faixas em que Moreno larga o violão para pilotar percussão autosuficente. Outro tradicional bloco afro da Bahia - o Olodum - é citado na esmaecida abordagem de Deusa do Amor (Adailton Poesia e Valter Farias), tema do repertório do bloco que Moreno já havia gravado com mais inventividade em seu álbum Máquina de Escrever Música (2000).  Em Sertão (Moreno Veloso e Caetano Veloso), o intérprete - mais desenvolto neste Solo in Tokyo - esboça falsetes à moda de Caetano. Apesar da inegável semelhança de timbres entre pai e filho, Moreno Veloso se escora em repertório da própria lavra e abre mão de rebobinar a obra de Caetano. São dele, por exemplo, o samba Rio Longe e Arriverdeci, faixa que termina com versos em italiano dirigidos à musa amada (as duas músicas foram lançadas em Máquina de Escrever Música). Quando se exercita como intérprete, Moreno se volta para a obra seminal e singular de Dorival Caymmi (1914 - 2008), compositor citado em verso da bossa-novista Jardim de Alah. De Caymmi, a quem o show é dedicado, Moreno aborda com reverência o samba Lá Vem a Baiana - faixa em que se notam a desenvoltura do artista ao microfone e ao violão - e o samba-canção Nem Eu. Imersa em onda menos tradicionalista, Maré (Moreno Veloso e Adriana Calcanhotto) joga Moreno em sua própria praia, na qual mergulham intérpretes antenadas como Adriana Calcanhotto e Roberta Sá. Samba lançado por Sá, Mais Alguém (Moreno Veloso e Quito Ribeiro) tem significado especial no repertório de Solo in Tokyo por falar de um "hotel lá no Japão" na letra. Soa mais natural e simpático do que a incursão pela língua japonesa em Osaruno Nataasha (Hiroshi Takano). No todo, Solo in Tokyo é interessante álbum ao vivo que merece edição no Brasil por dissociar Moreno Veloso da salutar experimentação que norteia seu trabalho como produtor e como integrante do trio +2. Seu solo em Tóquio é simples e eficiente.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Sozinho no universo hi-tech de Tokyo com seu violão e sua percussão, Moreno Veloso cai no samba em várias formas do ritmo que os japoneses cultuam como se fosse seu. Disco lançado no Japão em 2011 pela gravadora indie Hapiness Records, Solo in Tokyo flagra Moreno em gravação ao vivo de show concebido distante das experimentações feitas com o trio + 2 (formado com Kassin e Domenico Lancellotti) e bem longe do universo eletrônico em torno do qual gravita o último álbum de Gal Costa, Recanto, cuja produção é assinada por Moreno com seu pai, Caetano Veloso. Também gravado sob a produção de Moreno, Solo in Tokyo é disco que não nega a raça e o d.n.a. do artista. O samba dá o tom de temas como A Base do Supremo (Moreno Veloso e Rogério Duarte). É um disco de Moreno, mas bem poderia ser um disco de Caetano por circular em volta da roda do samba baiano em Um Passo à Frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro), por evocar a bossa do samba de João Gilberto em Jardim de Alah (Moreno Veloso e Quito Ribeiro) e por celebrar as tradições do bloco afro Ilê Aiyê no desossado samba-reggae Corpo Excitado (Reizinho) e em Deusa do Ébano (Miltão), faixas em que Moreno larga o violão para pilotar percussão autosuficente. Outro tradicional bloco afro da Bahia - o Olodum - é citado na esmaecida abordagem de Deusa do Amor (Adailton Poesia e Valter Farias), tema do repertório do bloco que Moreno já havia gravado com mais inventividade em seu álbum Máquina de Escrever Música (2000). Em Sertão (Moreno Veloso e Caetano Veloso), o intérprete - mais desenvolto neste Solo in Tokyo - esboça falsetes à moda de Caetano. Apesar da inegável semelhança de timbres entre pai e filho, Moreno Veloso se escora em repertório da própria lavra e abre mão de rebobinar a obra de Caetano. São dele, por exemplo, o samba Rio Longe e Arriverdeci, faixa que termina com versos em italiano dirigidos à musa amada (as duas músicas foram lançadas em Máquina de Escrever Música). Quando se exercita como intérprete, Moreno se volta para a obra seminal e singular de Dorival Caymmi (1914 - 2008), compositor citado em verso da bossa-novista Jardim de Alah. De Caymmi, a quem o show é dedicado, Moreno aborda com reverência o samba Lá Vem a Baiana - faixa em que se notam a desenvoltura do artista ao microfone e ao violão - e o samba-canção Nem Eu. Imersa em onda menos tradicionalista, Maré (Moreno Veloso e Adriana Calcanhotto) joga Moreno em sua própria praia, na qual mergulham intérpretes antenadas como Adriana Calcanhotto e Roberta Sá. Samba lançado por Sá, Mais Alguém (Moreno Veloso e Quito Ribeiro) tem significado especial no repertório de Solo in Tokyo por falar de um "hotel lá no Japão" na letra. Soa mais natural e simpático do que a incursão pela língua japonesa em Osaruno Nataasha (Hiroshi Takano). No todo, Solo in Tokyo é interessante álbum ao vivo que merece edição no Brasil por dissociar Moreno Veloso da salutar experimentação que norteia seu trabalho como produtor e como integrante do trio + 2. Seu solo em Tokyo é simples e eficiente.

Maria disse...

Gosto de algumas composições do Moreno, as que Roberta Sá canta aliás, ele é figura carimbada nos discos dela.

Anônimo disse...

Disco delicioso e longe das pretensões. Não paro de ouvir. Moreno é consciente de sua herança musical mas vai além sendo, junto com Domênico Lancelotti e Kassin, os precursores da nova música brasileira que hoje encontra espaço também nas vozes maduras de Gal Costa e do próprio Caetano.

Rafael disse...

É uma vergonha (para não dizer outra coisa) e total descaso das gravadoras brasileiras não se interessarem em tão rico e belo disco por um cantor e compositor tão talentoso como Moreno, sendo o mesmo ter que ser obrigado a lançar seu disco fora do Brasil... Essas coisas que só acontecem aqui no Brasil mesmo... E infelizmente esse não é o primeiro caso... Vários cantores do porte de Miúcha e tantos outros já lançaram discos primeiro no Japão para depois lançarem por aqui... Ou seja, o Japão dá mais valor a verdadeira boa música que é feita aqui (e que não é de fácil vendagem como Michel Teló, Luan Santana e outros) do que o próprio brasil dá a seus artistas do meio alternativo... Isso é deprimente!!!

Fernando Dasilva disse...

Adoro o trabalho dele...tao seguro de si mesmo e sem pretencoes nenhuma de ser espelho do pai, ele tem cosntruido uma obra interessantissima, instigante e fresca...chega ate ser futurista. Acompanho desde o maquina de escrever musica e acredito que ainda tera muito a dizer como artista. Vou procurar este disco imediatamente.

Pedro Progresso disse...

Moreno desafina à beça, mas eu gosto dele, acho um som muito bem feito - que vez ou outra remete mesmo a Caetano. Gosto do timbre da voz finíssima (especialmente qdo faz falsete).

André Gamma disse...

meu amigo, apenas uma correção... "São dele, por exemplo, o samba Rio Longe e Arriverdeci". Ok faz tempo, mas a crítica foi preguiçosinha hein!? Acha q tudo que brasileiro faz é samba... Essas duas músicas não são sambas e sim funk calcada na black music. E é bem claro isso! Tantos as versões originais do Moreno + 2, "funkeadas" pela guitarra do Pedro Sá, quanto a versão que o Moreno levou no violão, nessa apresentação em Tókio. Não tem nada de samba, apesar de no disco ter sambas.