Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Catto inflama paixão e personalidade em 'Fôlego', álbum de fogo (muito) alto

Resenha de CD
Título: Fôlego
Artista: Filipe Catto
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * *

♪ Ao debutar no mercado fonográfico em 2009 com a edição independente do EP Saga, Filipe Catto já mostrou ser intérprete passional que arde no fogo das paixões exauridas em ritmos quentes. Dois anos depois, o jovem cantor e compositor gaúcho estreia na Universal Music com seu primeiro álbum, Fôlego, para tentar a travessia para o mainstream. Com sua voz de contratenor, herdeira da linhagem aberta na música brasileira por Ney Matogrosso, Catto inflama paixão e personalidade em álbum que, embora filtrado pela visão de dois produtores aparentemente fora de sintonia com o universo dramático do artista (Dadi e Paul Ralphes), mantém o canto do rapaz em ponto de fervura. Remanescentes do EP de 2009, o tango Saga (Filipe Catto) e o samba-choro Crime passional (Filipe Catto) foram reaproveitados em Fôlego sem diluir o teor de novidade do álbum, cujo repertório mistura inéditas autorais - das quais Adoração (Filipe Catto) se insinua como a mais bem acabada e vocacionada para as paradas - com seis regravações bem sacadas. Ave de prata (Zé Ramalho, 1979) alça voo alto e surpreendente 32 anos após ter batizado o primeiro LP de Elba Ramalho. Tema gravado por Lila Downs para a trilha sonora do filme norte-americano Frida (2002), Alcoba azul (Herman Bravo Varela) ronda o universo do tango e evoca a latinidade efervescente que pontuava o EP Saga. Um dos maiores sucessos do cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi, Garçom (1987) - tema da lavra do próprio Rossi - ganha densidade, ajustada ao tom  incandescente do repertório de Catto. Que já dialoga naturalmente com o universo kitsch da canção sentimental brasileira em músicas como Gardênia branca (Filipe Catto). A chama das letras inflamadas não se apaga nem quando o intérprete cai no samba com Roupa do corpo (Filipe Catto), outro tema do EP de 2009 rebobinado em Fôlego. Aliás, em Juro por Deus (de versos como "Juro por Deus, já pensei até mesmo / Em provar do extremo / De misturar sonrisal, guaraná / Rum, cachaça e veneno"), o samba é retratado como a válvula de escape de relação já envenenada em verso cantado justamente quando a música entra na cadência bonita do ritmo que identifica o Brasil. Mas Catto extravasa rótulos e ritmos. Ao tirar Dia perfeito (Marcelo Gross, 2001) do universo roqueiro do grupo gaúcho Cachorro Grande, o intérprete leva o blues para um universo de cabaré habitado também por Johnny, Jack & Jameson (Filipe Catto). Em tom mais denso, Rima rica / Frase feita (1988) - música da lavra de outro conterrâneo de Catto, Nei Lisboa - reforça a intensidade de Fôlego. Nem mesmo temas autorais menos inspirados como a balada Redoma (Filipe Catto) e uma regravação fora do tom inflamado do álbum - 2 perdidos (2006) bela, delicada e tristonha canção de Dadi com Arnaldo Antunes que deixa a impressão incômoda de ter entrado no disco somente pelo fato de o Leãozinho Dadi ser um dos produtores de Fôlego - apagam o fogo alto de Filipe Catto, intérprete de fôlego e provável futuro.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Ao debutar no mercado fonográfico em 2009 com a edição independente do EP Saga, Filipe Catto já mostrou ser intérprete passional que arde no fogo das paixões exauridas em ritmos quentes. Dois anos depois, o jovem cantor e compositor gaúcho estreia na Universal Music com seu primeiro álbum, Fôlego, para tentar a travessia para o mainstream. Com sua voz de contratenor, herdeira da linhagem aberta na música brasileira por Ney Matogrosso, Catto inflama paixão e personalidade em álbum que, embora filtrado pela visão de dois produtores aparentemente fora de sintonia com o universo dramático do artista (Dadi e Paul Ralphes), mantém o canto do rapaz em ponto de fervura. Remanescentes do EP de 2009, o tango Saga (Filipe Catto) e o samba-choro Crime Passional (Filipe Catto) foram reaproveitados em Fôlego sem diluir o teor de novidade do álbum, cujo repertório mistura inéditas autorais - das quais Adoração (Filipe Catto) se insinua como a mais bem acabada e vocacionada para as paradas - com seis regravações bem sacadas. Ave de Prata (Zé Ramalho) alça voo alto e surpreendente 32 anos após ter batizado o primeiro LP de Elba Ramalho. Tema gravado por Lila Downs para a trilha sonora do filme norte-americano Frida (2002), Alcoba Azul (Herman Bravo Varela) ronda o universo do tango e evoca a latinidade efervescente que pontuava o EP Saga. Um dos maiores sucessos do cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi, Garçon - tema da lavra do próprio Rossi - ganha densidade, ajustada ao tom incandescente do repertório de Catto. Que já dialoga naturalmente com o universo kitsch da canção sentimental brasileira em músicas como Gardênia Branca (Filipe Catto). A chama das letras inflamadas não se apaga nem quando o intérprete cai no samba com Roupa do Corpo (Filipe Catto). Aliás, em Juro por Deus (de versos como "Juro por Deus, já pensei até mesmo / Em provar do extremo / De misturar sonrisal, guaraná / Rum, cachaça e veneno"), o samba é retratado como a válvula de escape de relação já envenenada em verso cantado justamente quando a música entra na cadência bonita do ritmo que identifica o Brasil. Mas Catto extravasa rótulos e ritmos. Ao tirar Dia Perfeito (Marcelo Gross) do universo roqueiro do grupo gaúcho Cachorro Grande, o intérprete leva o blues para um universo de cabaré habitado também por Johnny, Jack & Jameson (Filipe Catto). Em tom mais denso, Rima Rica / Frase Feita - música da lavra de outro conterrâneo de Catto, Nei Lisboa - reforça a intensidade de Fôlego. Nem mesmo temas autorais menos inspirados como a balada Redoma (Filipe Catto) e uma regravação quase sem sentido - 2 Perdidos, bela, delicada e tristonha canção de Dadi com Arnaldo Antunes que deixa a impressão incômoda de ter entrado no disco somente pelo fato de o Leãozinho ser um dos produtores de Fôlego - apagam o fogo alto de Filipe Catto, intérprete de fôlego e futuro.

Anônimo disse...

Gosto desse cara, ele tem poesia, gosto da voz dele tambem...

PS: Ele é bonitinho tambem...

Rhenan Soares disse...

Formado em digo-e-desdigo que sou, volto atrás com minhas opiniões à respeito do Catto. É realmente um intérprete muito competente e um bom compositor. Assisti recentemente sua entrevista ao Jô Soares e é inegável o talento do rapaz. Embora a despeito de ter toda essa personalidade musical tenha um personalidade artística tão forçada... projetada... bem chatinho. Acho que não veria um show, mas aplaudo o disco.

Anônimo disse...

Finalmente um cara para abalar as estruturas do mercado de cantores no Brasil, focados basicamente no samba. Filipe Catto vem para ocupar outras cadeiras, a do rock'n'roll e da MPB com atitude

Unknown disse...

aguardamos o Filipe desembarcar nos escenarios da Argentina!!!!!!! Ele arrasa aqui!!!!

Isabella disse...

Conheci as musicas do Filipe por acaso. Descobri que ele participaria de uma apresentação da Bruna Caram no Bar Brahma e fui conferir. Me apaixonei. Sua voz, sua intensidade, sua ousadia... tudo me encantou. As musicas próximas ao tango, com um toque de samba, me embriagaram.. Tão doce e tão forte.. Tão lindo.. Filipe, por favor, faça muitos shows em SP, e em Atibaia, minha cidade.

Alain disse...

Artista completo. De arte visceral. Assina as músicas com sua voz. Domina a melodia com doçura e melancolia, dando um ritmo singular. Regravações ganharam nova vida em "Fôlego". Posso sentí-lo até mesmo no cheiro do papel quando abro o encarte.

Art Daflon disse...

Talento esse é seu nome Catto. Parabéns

Eder disse...

Catto é mais que isso. É o raro tipo de artista que não faz nada em vão e faria de qualquer música, excelência. A única impressão incômoda que Catto deixa é a de não ter sobrado talento para quem ouve. Digo e repito, Catto é a melhor coisa que aconteceu para música brasileira (quiçá mundial) esse século. E, por favor, a arte sensória de Filipe Catto não se assemelha em nada a alegórica de Ney Matogrosso.