Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Brown aglutina bem sons tribais e de gala no show 'Romântico Ambiente'

Resenha de Show
Título: Romântico Ambiente
Artista: Carlinhos Brown (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Oi Casa Grande (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 10 de novembro de 2010
Cotação: * * * * 1/2
Agenda da turnê nacional Romântico Ambiente:
11 de dezembro - Mucuripe Club (Fortaleza, CE)

É com smoking, típico de um crooner em noite de gala, que Carlinhos Brown entra em cena para fazer o show Romântico Ambiente, idealizado para promover os dois álbuns de inéditas que o artista baiano acaba de lançar com patrocínio do projeto Natura Musical, o calmo Diminuto e o explosivo Adobró. Predominam no roteiro músicas de Diminuto - o mais inspirado dos dois discos por realçar a vertente melódica da obra de Brown - mas, a rigor, o show combina sons de gala e tribais, em sintonia com a musicalidade plural e efervescente do cantor, compositor e percussionista baiano. O smoking do início é trocado por figurino mais informal na metade final do show. A dualidade que rege a turnê é perceptível logo na abertura quando, com as cortinas ainda fechadas, o público ouve sons percussivos e cânticos de tom afro. Na sequência, o crooner Brown entra cena, com traje de gala, para cantar Romântico Ambiente, a música de Diminuto que dá título a turnê - na estrada desde 22 de outubro em rota iniciada por Salvador (BA) - e que exemplifica o bem-sucedido diálogo do compositor com a tradição da canção brasileira. Na sequência, vem Argila, música do primeiro disco solo de Brown, Alfagamabetizado (1996), de cujo repertório o artista também revive Seo Zé com molho cubano. Escorado em big-band formada por 12 músicos que manejam com maestria cordas, sopros, percussões e teclados, o elétrico baiano alterna climas, entre tons sertanejos (Pestaneja, com imagens do sertão que segue seco projetadas no telão), sacros (Cristo Amigo, tradicional tema católico que simboliza o sincretismo religioso do cancioneiro de Brown) e festivos (Meia-Lua Inteira, a música que o projetou por conta da gravação feita por Caetano Veloso para o álbum Estrangeiro, de 1989). Um samba do compositor baiano Batatinha (1924 - 1997) - Pra Todo Efeito, entoado por Brown quase a capella, com o auxílio solitário de um tamborim percutido por ele mesmo - é a deixa para a apresentação de Centro da Saudade (Brown, Pedro Baby e Davi Moraes), samba de moldura tradicional, tocado no show à moda carioca. É quando o percussionista começa a entrar em cena, apresentando músicas como Você Merece Samba em total interação com os ritmistas da big-band. Após incursionar pelo sedutor repertório dos Tribalistas (o trio que formou com Marisa Monte e Arnaldo Antunes em 2002), com destaque para a singela canção natalina Mary Cristo e para abordagem pulsante e quase jazzy de Um a Um, Brown canta o bolero tropical Mãos Denhas, uma das pérolas do cancioneiro de Diminuto. É quando Chico Buarque entra em cena, via telão, para declamar o texto incidental Suor Caseiro, da lavra profícua de seu genro. Retribuindo a gentileza, Brown revive a tristonha Carolina, tema composto pelo ilustre sogro em 1967, como se o tempo não tivesse passado na janela. É quando brilha a voz do crooner que tinha desperdiçado, momentos antes, a chance de cantar bem Velha Infância. Com direito à citação da toada De Volta pro Aconchego, sucesso de Dominguinhos e Nando Cordel na voz de Elba Ramalho, Carolina é um dos ápices de roteiro que atinge outro ponto bem alto em Maria de Verdade, pretexto para o artista expressar justa gratidão por Marisa Monte, presente na plateia da apresentação carioca de Romântico Ambiente. Foi pela voz de Marisa, afinal, que Brown se fez escutar por públicos mais refratários ao baticum afro-baiano que dá o tom da parte final do show por conta de temas como Ashansu e Beija-Flor (Xexéu e Zé Raimundo), sucessos do grupo Timbalada. Beija-flor voa no ritmo de uma batucada carioca em direção a Ai, que Saudade d'Ocê (Vital Farias), canção à qual é unida por mera afinidade temática. É que, com ou sem romantismo, Carlinhos Brown sabe se ambientar dentro da pluralidade que rege a música popular/pra pular brasileira.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

É com smoking, típico de um crooner em noite de gala, que Carlinhos Brown entra em cena para fazer o show Romântico Ambiente, idealizado para promover os dois álbuns de inéditas que o artista baiano acaba de lançar com patrocínio do projeto Natura Musical, o calmo Diminuto e o explosivo Adobró. Predominam no roteiro músicas de Diminuto - o mais inspirado dos dois discos por realçar a vertente melódica da obra de Brown - mas, a rigor, o show combina sons de gala e tribais, em sintonia com a musicalidade plural e efervescente do cantor, compositor e percussionista baiano. O smoking do início é trocado por figurino mais informal na metade final do show. A dualidade que rege a turnê é perceptível logo na abertura quando, com as cortinas ainda fechadas, o público ouve sons percussivos e cânticos de tom afro. Na sequência, o crooner Brown entra cena, com traje de gala, para cantar Romântico Ambiente, a música de Diminuto que dá título a turnê - na estrada desde 22 de outubro em rota iniciada por Salvador (BA) - e que exemplifica o bem-sucedido diálogo do compositor com a tradição da canção brasileira. Na sequência, vem Argila, música do primeiro disco solo de Brown, Alfagamabetizado (1996), de cujo repertório o artista também revive Seo Zé com molho cubano. Escorado em big-band formada por 12 músicos que manejam com maestria cordas, sopros, percussões e teclados, o elétrico baiano alterna climas, entre tons sertanejos (Pestaneja, com imagens do sertão que segue seco projetadas no telão), sacros (Cristo Amigo, tradicional tema católico que simboliza o sincretismo religioso do cancioneiro de Brown) e festivos (Meia-Lua Inteira, a música que o projetou por conta da gravação feita por Caetano Veloso para o álbum Estrangeiro, de 1989). Um samba do compositor baiano Batatinha (1924 - 1997) - Pra Todo Efeito, entoado por Brown quase a capella, com o auxílio solitário de um tamborim percutido por ele mesmo - é a deixa para a apresentação de Centro da Saudade (Brown, Pedro Baby e Davi Moraes), samba de moldura tradicional, tocado no show à moda carioca. É quando o percussionista começa a entrar em cena, apresentando músicas como Você Merece Samba em total interação com os ritmistas da big-band. Após incursionar pelo sedutor repertório dos Tribalistas (o trio que formou com Marisa Monte e Arnaldo Antunes em 2002), com destaque para a singela canção natalina Mary Cristo e para abordagem pulsante e quase jazzy de Um a Um, Brown canta o bolero tropical Mãos Denhas, uma das pérolas do cancioneiro de Diminuto. É quando Chico Buarque entra em cena, via telão, para declamar o texto incidental Suor Inteiro, da lavra profícua de seu genro. Retribuindo a gentileza, Brown revive a tristonha Carolina, tema composto pelo ilustre sogro em 1967, como se o tempo não tivesse passado na janela. É quando brilha a voz do crooner que tinha desperdiçado, momentos antes, a chance de cantar bem Velha Infância. Com direito à citação da toada De Volta pro Aconchego, sucesso de Dominguinhos e Nando Cordel na voz de Elba Ramalho, Carolina é um dos ápices de roteiro que atinge outro ponto bem alto em Maria de Verdade, pretexto para o artista expressar justa gratidão por Marisa Monte, presente na plateia da apresentação carioca de Romântico Ambiente. Foi pela voz de Marisa, afinal, que Brown se fez escutar por públicos mais refratários ao baticum afro-baiano que dá o tom da parte final do show por conta de temas como Ashansu e Beija-Flor (Xexéu e Zé Raimundo), sucessos do grupo Timbalada. Beija-flor voa no ritmo de uma batucada carioca em direção a Ai, que Saudade d'Ocê (Vital Farias), canção à qual é unida por mera afinidade temática. É que, com ou sem romantismo, Carlinhos Brown sabe se ambientar dentro da pluralidade que rege a música popular/pra pular brasileira.