Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 12 de outubro de 2010

DVD 'Dois É Show', de Partimpim, é boa diversão para crianças e adultos

Resenha de DVD
Título: Dois É Show
Artista: Adriana Partimpim
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * * 1/2

Se o primeiro show de Adriana Partimpim, estreado em maio de 2005, já foi muito bom, o segundo foi totalmente demais. Dirigido por Adriana Calcanhotto com Leonardo Netto, Dois É Show - ora editado em DVD, filmado em maio de 2010 no Rio de Janeiro (RJ) com direção da cineasta Susana Moraes - é espetáculo idealizado para crianças, mas feito com sensibilidade e musicalidade de gente grande. Tudo flui bem. Tudo parece estar no seu devido lugar - mesmo que o multicolorido cenário de Hélio Eichbauer subverta a realidade das proporções com seus elementos cênicos (lápis e lâmpadas, por exemplo) de tamanho gigante. Hábeis ao dar caráter lúdico a números de tom adulto, como O Homem Deu Nome a Todos os Animais (Bob Dylan em versão de Zé Ramalho), os figurinos e adereços de Marcelo Pies e Danielle Jensen são um show à parte de cores, beleza e sintonia com o universo infantil. Na construção cênica, aliás, Dois É Show avança muito em relação ao primeiro espetáculo de Adriana Partimpim. A atmosfera de encantamento visual é tamanha que até disfarça a rala inspiração de um ou outro tema autoral da artista - em especial, Menino, Menina. Talvez porque Adriana entre sem pudores na brincadeira ao montar o roteiro que alterna músicas dos dois CDs de estúdio de Partimpim. Seu gestual em Ciranda da Bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque) reproduz o movimento de uma bailarina numa caixinha de música - com direito a uma saia guarda-chuva que reproduz versos da letra escrita por Chico. A propósito, a própria sonoridade pop dos arranjos, que combinam sons orgânicos e eletrônicos, às vezes evoca a delicadeza das caixinhas de música com série de barulhinhos bons tirados de inusitado arsenal percussivo que inclui brinquedos e artefatos digitais. Um prato cheio para Domenico Lancellotti e Rafael Rocha brincarem em cena! Mas as guitarras também se fazem ouvir. Tanto as de Moreno Veloso e Davi Moraes como a da própria Partimpim. Que simula solo hendrixiano em Um Leão Está Solto nas Ruas - o rock pré-Jovem Guarda de Rossini Pinto lançado por Roberto Carlos em 1964, boa surpresa do roteiro - e toca sua guitarra em números como As Borboletas e Oito Anos. Esta parceria de Paula Toller com Dunga - sucesso do primeiro CD de Partimpim - é um dos números com maior poder de sedução junto às crianças. O coro ouvido no refrão rivaliza com o do hit radiofônico do primeiro álbum, Fico Assim sem Você, tema do repertório da extinta dupla Claudinho & Buchecha, alocado nos extras do DVD. São números em que a criançada tira os olhos do aparato visual do show para curtir tão somente o som. Já outras músicas - caso de Alexandre (Caetano Veloso), engrandecida com percussão que remete ao baticum afro-baiano - são mais ouvidas pelos adultos, já que os shows de Partimpim continuam atraindo crianças de todas as idades. Que logo se embevecem com o trem de brinquedo que atravessa o palco enquanto Partimpim embarca n'O Trenzinho do Caipira (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar) e com o chapéu de borboletas que adorna As Borboletas (Cid Campos e Vinicius de Moraes). Dois é realmente show porque Partimpim deixa baixar em cena seu espírito moleque. Exceto na terna Gatinha Manhosa (Roberto e Erasmo Carlos), único número de voz-e-violão em que a menina sapeca  parece estar possuída pelo espírito de sua criadora Adriana Calcanhotto (já  habituada a incursionar pelo cancioneiro da Jovem Guarda). Mas Partimpim logo volta a ser Partimpim, brincando de ser DJ ao fazer scratches no toca-discos posicionado no palco como elemento cênico e  caindo na folia em Lig-Lig-Lig-Lé (Oswaldo Santiago e Paulo Barbosa) - com fantasia de chinês - e na reprise do carnavalesco Baile Partimcundum (Partimpim e Dé Palmeira). Dois é show porque traz diversão sadia que não subestima a inteligência de crianças (e dos adultos).

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Se o primeiro show de Adriana Partimpim, estreado em maio de 2005, já foi muito bom, o segundo foi totalmente demais. Dirigido por Adriana Calcanhotto com Leonardo Netto, Dois É Show - ora editado em DVD, filmado em maio de 2010 no Rio de Janeiro (RJ) com direção da cineasta Susana Moraes - é espetáculo idealizado para crianças, mas feito com sensibilidade e musicalidade de gente grande. Tudo flui bem. Tudo parece estar no seu devido lugar - mesmo que o multicolorido cenário de Hélio Eichbauer subverta a realidade das proporções com seus elementos cênicos (lápis e lâmpadas, por exemplo) de tamanho gigante. Hábeis ao dar caráter lúdico a números de tom adulto, como O Homem Deu Nome a Todos os Animais (Bob Dylan em versão de Zé Ramalho), os figurinos e adereços de Marcelo Pies e Danielle Jensen são um show à parte de cores, beleza e sintonia com o universo infantil. Na construção cênica, aliás, Dois É Show avança muito em relação ao primeiro espetáculo de Adriana Partimpim. A atmosfera de encantamento visual é tamanha que até disfarça a rala inspiração de um ou outro tema autoral da artista - em especial, Menino, Menina. Talvez porque Adriana entre sem pudores na brincadeira ao montar o roteiro que alterna músicas dos dois CDs de estúdio de Partimpim. Seu gestual em Ciranda da Bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque) reproduz o movimento de uma bailarina numa caixinha de música - com direito a uma saia guarda-chuva que reproduz versos da letra escrita por Chico. A propósito, a própria sonoridade pop dos arranjos, que combinam sons orgânicos e eletrônicos, às vezes evoca a delicadeza das caixinhas de música com série de barulhinhos bons tirados de inusitado arsenal percussivo que inclui brinquedos e artefatos digitais. Um prato cheio para Domenico Lancellotti e Rafael Rocha brincarem em cena! Mas as guitarras também se fazem ouvir. Tanto as de Moreno Veloso e Davi Moraes como a da própria Partimpim. Que simula solo hendrixiano em Um Leão Está Solto nas Ruas - o rock pré-Jovem Guarda de Rossini Pinto lançado por Roberto Carlos em 1964, boa surpresa do roteiro - e toca sua guitarra em números como As Borboletas e Oito Anos. Esta parceria de Paula Toller com Dunga - sucesso do primeiro CD de Partimpim - é um dos números com maior poder de sedução junto às crianças. O coro ouvido no refrão rivaliza com o do hit radiofônico do primeiro álbum, Fico Assim sem Você, tema do repertório da extinta dupla Claudinho & Buchecha, alocado nos extras do DVD. São números em que a criançada tira os olhos do aparato visual do show para curtir tão somente o som. Já outras músicas - caso de Alexandre (Caetano Veloso), engrandecida com percussão que remete ao baticum afro-baiano - são mais ouvidas pelos adultos, já que os shows de Partimpim continuam atraindo crianças de todas as idades. Que logo se embevecem com o trem de brinquedo que atravessa o palco enquanto Partimpim embarca n'O Trenzinho do Caipira (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar) e com o chapéu de borboletas que adorna As Borboletas (Cid Campos e Vinicius de Moraes). Dois é realmente show porque Partimpim deixa baixar em cena seu espírito moleque. Exceto na terna Gatinha Manhosa (Roberto e Erasmo Carlos), único número de voz-e-violão em que a menina sapeca parece estar possuída pelo espírito de sua criadora Adriana Calcanhotto (já habituada a incursionar pelo cancioneiro da Jovem Guarda). Mas Partimpim logo volta a ser Partimpim, brincando de ser DJ ao fazer scratches no toca-discos posicionado no palco como elemento cênico e caindo na folia em Lig-Lig-Lig-Lé (Oswaldo Santiago e Paulo Barbosa) - com fantasia de chinês - e na reprise do carnavalesco Baile Partimcundum (Partimpim e Dé Palmeira). Dois é show porque traz diversão sadia que não subestima a inteligência de crianças (e dos adultos).